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Quarta-feira, 26 de Marco de 2025

Cultura

Caetano Veloso e o cinema: uma paixão que transcende o tempo

Coletânea "Cine Subaé" revela o olhar crítico do compositor sobre a sétima arte

Marcio Edison
Por Marcio Edison
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Caetano Veloso e o cinema: uma paixão que transcende o tempo
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Caetano Veloso é revolucionário. A coletânea "Cine Subaé" (Companhia das Letras, R$ 130, 440 págs.), que reúne textos sobre cinema escritos pelo compositor desde os anos 1960, é uma prova disso. Organizada pelos cinéfilos baianos Claudio Leal e Rodrigo Sombra, a obra demonstra como o tropicalista baiano entrelaça sua paixão pelo cinema nas composições e apresentações.

“De algum modo, ao abrir o livro, você está acessando esse cinema, esse lugar de onde Caetano via o mundo através do cinema”, afirma Claudio Leal. Nos primeiros ensaios e críticas, percebemos como o fascínio do músico pela sétima arte começou em uma pequena sala do Cinema Santo Amaro, na década de 1950, em sua cidade natal, Santo Amaro, no Recôncavo Baiano. Embora aquela sala tenha apresentado o cinema para Caetano, foi no Cine Subaé que ele viveu um dos momentos mais marcantes de sua formação pessoal: uma sessão de "La Strada/A Estrada da Vida" (1954), de Federico Fellini. Aos 15 anos, ele saiu chorando da exibição e passou um dia inteiro sem comer.

“O Subaé era uma espécie de janela aberta para o mundo, para uma possibilidade de vida cosmopolita. Você tinha filmes franceses, italianos, mexicanos passando ali, um repertório de exibição mais diverso do que muitos cinemas em capitais brasileiras hoje”, observa Rodrigo Sombra.

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A coletânea reúne 64 críticas e ensaios escritos por Caetano, além de 76 fragmentos de conversas, encartes de álbuns e 12 entrevistas concedidas pelo músico em diversas épocas. Tanto Claudio Leal, jornalista e mestre em teoria, história e crítica do cinema, quanto Rodrigo Sombra, fotógrafo e mestre em estudos de cinema, começaram a frequentar salas de exibição desde crianças, assim como Caetano, e sentem-se extremamente conectados com o livro, que mexe com uma paixão antiga.

Em algumas canções de Caetano, a presença do cinema é clara, como em "Cinema Novo" (do álbum Tropicália 2, de 1993) ou "Giulietta Masina" (1987), homenagem à atriz casada com Fellini. “O livro expande um olhar concentrado sobre essa relação com o cinema, central na construção da obra de Caetano. Até então, esse vínculo fortíssimo não tinha sido explorado do ponto de vista crítico e de uma antologia dele”, explica Claudio.

O processo de pesquisa para o livro levou cerca de três anos, com a iniciativa partindo dos organizadores. Os textos estavam dispersos em várias publicações, incluindo grandes jornais e revistas independentes sobre o tema. “A gente sabia que existiam estes textos dele e conhecia vários, mas fomos descobrindo muitos outros. Fomos surpreendidos com a quantidade de escritos que não haviam sido publicados em livro”, relata Rodrigo. Segundo Claudio, Caetano não guarda um arquivo privado com seus textos e publicações.

O envolvimento de Caetano foi fundamental para a discussão crítica do livro, ao receber a proposta inicial. Claudio conta que eles receberam um e-mail após Caetano ler e comentar as críticas encontradas. “Decidimos complementar alguns pontos do livro com coisas que não estavam formuladas ainda por ele, como o argumento do filme que ele planejou e não fez sobre Marco Polo em Salvador”, diz Claudio.

Rodrigo conta que Caetano foi se surpreendendo enquanto os textos lhe eram apresentados. Uma destas críticas foi "Vendo Canções", em memória de Elis Regina, considerado um dos melhores textos do livro. Nele, Caetano apresenta uma apreciação crítica da estética dos videoclipes.

Enquanto Rodrigo consegue apontar seu favorito, Claudio é relutante, por ter se emocionado com a pesquisa. “O texto dele sobre ‘A Grande Feira’, no Diário de Notícias, acho que me instigou bastante porque havia uma ambição crítica e também de historiador do cinema em Caetano”, explica. "A Grande Feira" é uma produção de 1961, dirigida pelo baiano Roberto Pires.

Claudio Leal observa que a opinião de Caetano sobre uma obra de arte pode mudar com o tempo: “Ele não tem um ponto de vista em geral preconcebido sobre uma obra de arte. É a experiência que vai determinar a perspectiva crítica dele e, se essa experiência mudar com o tempo, ele também vai mudar com ela em relação àquele filme”.

Mesmo que sua opinião tenha mudado em relação ao filme "A Imitação da Vida", de Douglas Sirk, Caetano não teme ser sincero. O objetivo do músico em seus escritos não é agradar, mas mostrar seu ponto de vista sobre determinada película, principalmente nos anos iniciais, quando buscava criar um senso cinéfilo em Santo Amaro.

Ao longo da leitura de "Cine Subaé", muitas vezes discordamos de Caetano e suas opiniões ácidas, mas ainda buscamos ver e pesquisar sobre os filmes mencionados, apenas para ter uma batalha mental com o músico. Entre as páginas, é possível compreender sua mente durante a criação do filme "Cinema Falado" e acompanhar sua mudança de opinião ao longo dos anos.

Desde as críticas até as entrevistas, ao terminar a leitura, a vontade do leitor será iniciar uma maratona de filmes para conferir as opiniões de Caetano, ou até mesmo se inspirar para criticar as películas que, segundo o músico, devem ser apreciadas em uma sala de cinema.

FONTE/CRÉDITOS: Direto da Redação
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Marcio Edison

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Marcio Edison

Jornalista, radialista. Formado em Matemática (PUC/SP) e Comunicação Social (UNIP/SP) também é desenvolvedor web, palestrante de tecnologia e CEO da mexcorp.net

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