Os impactos da pandemia de Covid-19 ainda são sentidos profundamente na educação brasileira, especialmente entre crianças e adolescentes. Um estudo divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) revela que o acesso à educação, que já era desigual, piorou durante o período pandêmico e ainda não se recuperou ao nível de 2019.
A análise, intitulada "Pobreza Multidimensional na Infância e Adolescência no Brasil", baseia-se nos dados da Pesquisa por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do IBGE e destaca um cenário preocupante: aumento da proporção de crianças que não sabem ler ou escrever até os oito anos de idade e dificuldades no acesso à escola na idade certa.
Dados alarmantes sobre acesso à educação
O estudo aponta uma evolução desigual no acesso à educação ao longo dos últimos anos. Em 2017, 8,5% das crianças e adolescentes de até 17 anos estavam fora da escola. Essa porcentagem caiu para 7,1% em 2019, mas voltou a subir para 8,8% em 2021, durante a pandemia. Embora tenha havido uma leve melhora em 2023, com o índice reduzido para 7,7%, os números ainda refletem o retrocesso provocado pela crise sanitária.
No total, cerca de quatro milhões de crianças e adolescentes estão atrasados nos estudos, seja por repetência, evasão escolar ou atraso na alfabetização. Entre esses, 619 mil vivem em privação extrema de educação, sem frequentar a escola.
Crianças sem alfabetização: um problema crescente
Um dos aspectos mais preocupantes destacados pelo relatório é o aumento do percentual de crianças que não sabem ler ou escrever aos oito anos de idade. As interrupções nas aulas presenciais durante a pandemia agravaram o problema, especialmente nas famílias de baixa renda, que enfrentaram dificuldades para acessar o ensino remoto devido à falta de recursos como internet e dispositivos tecnológicos.
“A alfabetização na idade certa é um marco fundamental para o aprendizado das crianças. Quando isso é atrasado, afeta não apenas o desempenho escolar, mas toda a trajetória educacional e as oportunidades futuras”, explica a especialista em educação infantil, Carla Almeida.
Impactos sociais e econômicos
A defasagem educacional tem consequências que vão além do desempenho acadêmico. Jovens que não conseguem acompanhar os estudos têm maior probabilidade de abandonar a escola, limitando suas perspectivas de emprego e perpetuando o ciclo de pobreza.
O Unicef alerta que essas privações educacionais estão intimamente ligadas à desigualdade social. Famílias em situação de vulnerabilidade enfrentam barreiras maiores para garantir o direito à educação de seus filhos, evidenciando a necessidade de políticas públicas que priorizem o combate às desigualdades no setor.
Caminhos para reverter a crise
Especialistas defendem medidas emergenciais para mitigar os impactos da pandemia e recuperar o aprendizado perdido. Entre as soluções, destacam-se:
- Investimento em programas de reforço escolar, especialmente para crianças nos primeiros anos do ensino fundamental;
- Ampliação do acesso à tecnologia para ensino remoto e híbrido;
- Fortalecimento de políticas públicas de combate à evasão escolar.
Uma geração em reconstrução
Os dados reforçam que os desafios do setor educacional brasileiro não se limitam à infraestrutura ou ao número de vagas, mas também à qualidade do ensino oferecido e à garantia de permanência dos estudantes na escola.
Recuperar o tempo perdido e garantir a alfabetização e o aprendizado para milhões de crianças e adolescentes exige ação conjunta entre governo, sociedade civil e setor privado. Para muitos jovens, o acesso à educação representa não apenas um direito, mas a única chance de construir um futuro com mais oportunidades.
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