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Domingo, 10 de Novembro de 2024

Saúde

Fila por transplante de córneas triplica em dez anos no Brasil

Espera pelo procedimento pode ultrapassar 19 meses em alguns estados; capacidade atual de transplantes precisa dobrar para zerar lista

Marcio Edison
Por Marcio Edison
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Fila por transplante de córneas triplica em dez anos no Brasil
Agência Brasil
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O número de brasileiros que aguardam por um transplante de córnea quase triplicou nos últimos dez anos, de acordo com um levantamento recente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). Em 2014, a lista de espera contava com 10.734 pacientes, mas, em junho de 2023, esse número saltou para 28.937, evidenciando o crescente desafio do país em atender à demanda por esse procedimento cirúrgico essencial para restaurar a visão.

A média nacional de espera para a realização do transplante é de 194 dias, ou aproximadamente seis meses, mas em estados como Maranhão e Pará, esse tempo pode chegar a quase 600 dias, o que corresponde a 19 meses de espera. Essa disparidade regional reflete as dificuldades de algumas áreas em acompanhar o ritmo de oferta de córneas saudáveis e de infraestrutura hospitalar para realizar os procedimentos.

Aumento da demanda e o desafio da oferta

A cirurgia de transplante de córnea consiste na substituição de uma córnea doente por outra saudável, com o objetivo de restaurar a visão do paciente. É indicada para pessoas que sofrem com doenças que afetam a transparência e a função da córnea, como ceratocone, cicatrizes de infecções oculares e complicações de cirurgias oculares anteriores.

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Embora o Brasil tenha conseguido aumentar o número de transplantes nos últimos anos, a capacidade de atender a todos os pacientes em tempo hábil ainda está aquém do necessário. Em 2023, foram realizados 16.027 transplantes de córneas no país, um número superior aos anos anteriores, mas ainda insuficiente para reduzir significativamente a fila de espera. Somente no primeiro semestre de 2024, 8.218 pacientes foram beneficiados com o procedimento, sendo que quase três mil dessas cirurgias ocorreram no estado de São Paulo, o maior centro de transplantes de córnea do país.

Mesmo com esses avanços, a crescente demanda faz com que a fila de espera continue a aumentar. O CBO estima que, para zerar essa fila, seria necessário dobrar a capacidade anual de transplantes. Isso não envolve apenas o aumento na doação de córneas, mas também o fortalecimento da infraestrutura hospitalar e a disponibilidade de profissionais especializados para realizar as cirurgias.

Desigualdade regional no acesso ao transplante

A distribuição desigual de recursos médicos no Brasil é um dos fatores que agravam a situação da fila de espera por transplantes de córnea. Enquanto estados do Sudeste, como São Paulo, têm uma maior capacidade de realizar o procedimento, regiões Norte e Nordeste sofrem com uma infraestrutura mais limitada, tanto no que diz respeito à captação de doadores quanto à realização das cirurgias.

Nos estados do Maranhão e do Pará, por exemplo, a espera pode ultrapassar um ano e meio, ou 19 meses. Essa longa espera faz com que pacientes dessas regiões enfrentem, além dos problemas de saúde visual, um desgaste emocional significativo enquanto aguardam pela cirurgia. A dificuldade em conseguir doadores locais também aumenta a dependência de córneas captadas em outros estados, o que pode prolongar ainda mais o tempo de espera.

No Brasil, as córneas são os órgãos mais frequentemente doados, já que, diferentemente de outros órgãos, a maioria das pessoas que morrem pode doar. No entanto, o processo de captação e distribuição é complexo, e a logística de transporte dos órgãos, muitas vezes, enfrenta barreiras regionais. Por isso, melhorar a estrutura de captação, preservação e transporte de córneas é uma parte crucial para reduzir as desigualdades de acesso entre as diferentes regiões do país.

Impacto da pandemia e recuperação

A pandemia de COVID-19, que impactou severamente o sistema de saúde global, também prejudicou o ritmo de transplantes de córnea no Brasil. Durante o auge da crise sanitária, muitos procedimentos considerados eletivos, como os transplantes, foram adiados ou cancelados, aumentando ainda mais a fila de espera. Com a retomada gradual das cirurgias, o país conseguiu aumentar o número de procedimentos, mas ainda enfrenta as consequências desse atraso.

Em 2023 e 2024, o setor de transplantes de córnea vem se recuperando, mas ainda precisa acelerar para compensar o período em que os procedimentos ficaram paralisados. Além disso, o envelhecimento da população e o aumento de doenças oculares degenerativas fazem com que a demanda por transplantes continue a crescer.

O caminho para melhorar a situação

Para que o Brasil consiga reduzir a fila de espera por transplantes de córnea, o CBO e especialistas defendem a adoção de diversas medidas. O incentivo à doação de órgãos continua sendo um dos principais desafios, uma vez que, apesar das campanhas de conscientização, ainda há uma grande resistência em muitas famílias em autorizar a doação após a morte do ente querido.

A melhoria da infraestrutura hospitalar e o aumento da formação de profissionais especializados também são essenciais para garantir que mais transplantes possam ser realizados, especialmente nas regiões que enfrentam maior carência de recursos. Além disso, a criação de centros regionais de captação de córneas, em estados mais afastados dos grandes centros urbanos, ajudaria a reduzir as disparidades no acesso ao tratamento.

Por fim, as autoridades de saúde devem continuar a buscar soluções para melhorar a logística de transporte de córneas e outros órgãos, garantindo que o material doado possa chegar rapidamente aos locais onde é mais necessário.

Conclusão

O aumento expressivo na fila de espera por transplantes de córnea no Brasil reflete um problema complexo que exige soluções em várias frentes. Embora o país tenha avançado na realização de transplantes, a demanda crescente, aliada às desigualdades regionais e à necessidade de ampliação da infraestrutura, impõe desafios para o sistema de saúde.

Com planejamento adequado e investimentos em doação, logística e capacitação, o Brasil poderá não só reduzir a fila de espera, mas também garantir que mais pacientes tenham a oportunidade de restaurar sua visão e melhorar sua qualidade de vida.

FONTE/CRÉDITOS: Agência Rádio 2
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Marcio Edison

Publicado por:

Marcio Edison

Jornalista, radialista. Formado em Matemática (PUC/SP) e Comunicação Social (UNIP/SP) também é desenvolvedor web, palestrante de tecnologia e CEO da mexcorp.net

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