Em setembro de 2024, os juros do crédito rotativo do cartão de crédito no Brasil subiram para um novo recorde: 438,4% ao ano. Esse número, divulgado pelo Banco Central, representa um aumento de 11,5 pontos percentuais em relação ao mês anterior e aproxima a taxa dos picos históricos de dezembro de 2023, quando atingiu 442,1% ao ano. Esse cenário acentua o peso das dívidas para milhões de brasileiros, em um país onde o cartão de crédito é um dos principais fatores de inadimplência.
O crédito rotativo é acionado quando o consumidor paga apenas uma parte da fatura do cartão e, devido à elevada taxa cobrada, se tornou a linha de crédito mais cara do mercado. Com juros em níveis tão elevados, é fácil entender por que esse tipo de dívida se torna um peso crescente para muitas famílias, alimentando o ciclo de inadimplência. Segundo dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), 4 em cada 10 brasileiros adultos estavam negativados em setembro, o que significa mais de 67,5 milhões de pessoas com dificuldades de cumprir com seus compromissos financeiros.
Para tentar reduzir o impacto dos juros rotativos, o Banco Central determinou que, após 30 dias, os bancos devem obrigatoriamente transferir a dívida do rotativo para o crédito parcelado, com taxas menos agressivas. No entanto, essa "alternativa" ainda mantém juros expressivos: em setembro, a taxa média do crédito parcelado no cartão de crédito foi de 185,8% ao ano. Já a taxa total média do cartão de crédito, que considera ambas as modalidades, rotativo e parcelado, chegou a aproximadamente 85% ao ano.
Apesar das medidas de regulação, os juros elevados permanecem desafiadores para o consumidor médio. O Brasil, que já é reconhecido por ter uma das mais altas taxas de juros do mundo para o cartão de crédito, segue com dificuldades em frear o avanço das dívidas. Além disso, a alta inflação e a precariedade no mercado de trabalho afetam diretamente o orçamento das famílias, o que intensifica a dependência do crédito e aumenta o risco de inadimplência.
Analistas econômicos alertam para um círculo vicioso: a necessidade de acesso ao crédito se intensifica, o que leva ao uso frequente do rotativo do cartão, mas a alta taxa de juros impede que as dívidas sejam quitadas rapidamente, resultando em mais inadimplência. Esse processo não apenas desgasta a economia familiar, mas também afeta o mercado de crédito, pois dificulta o acesso a empréstimos e serviços financeiros de modo geral.
Enquanto isso, o aumento contínuo da inadimplência gera consequências econômicas de longo prazo, como o aumento das taxas de juros em outras linhas de crédito. Especialistas sugerem que políticas de educação financeira e regulamentações mais rigorosas são necessárias para mitigar o impacto da crise da inadimplência, mas isso exige um esforço conjunto entre as instituições financeiras e o poder público.
A situação do crédito no Brasil pede soluções urgentes e eficazes, mas também uma compreensão mais ampla das causas que impulsionam a inadimplência. Para muitos, o cartão de crédito, que deveria ser uma ferramenta para gerenciar as finanças, transformou-se em um fator de risco.
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