Na noite desta quarta-feira (6), a Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR) recebeu as docentes Profª Thaila Caroline Cardoso Matias e Profª Drª Jéssica Aracelli Rocha para uma roda de conversa realizada em comemoração ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. O evento foi uma iniciativa do Núcleo de Educação para Relações Étnico-Raciais (NERA), coordenado pela Profª. Drª. Marli Elisa Nascimento Fernandes, com o apoio do Centro de Educação em Direitos Humanos (CEDH).
A abertura do evento foi realizada pela Profª Marli e teve a participação de estudantes e docentes membros de seu grupo de extensão multidisciplinar, que segundo ela, “tem como objetivo tornar a educação antirracista uma política dentro da universidade.” A roda de conversa em questão foi uma das várias iniciativas tomadas pelo NERA para continuar a promover a discussão e a reflexão sobre as relações étnico-raciais e a valorização da cultura afro-brasileira.
Após a abertura do evento, a psicóloga e professora Thaila Matias deu início às falas e abordou o tema: “aspectos da autoestima e suas nuances na beleza negra”, questionando padrões impostos socialmente. Em sua fala, ela destacou que autoestima vai além da aparência: trata-se de bem-estar, pertencimento e representação. A psicóloga provocou reflexões sobre a ausência de traços étnicos nos ideais de beleza e a sexualização dos corpos negros, apontando que romper com os padrões eurocêntricos é um ato de resistência. “Por que procuramos beleza em espelhos tão distantes, quando temos tanta beleza ao nosso redor?”. Para ela, a valorização da identidade negra começa pela criação de novos espelhos e reflexos próprios, por meio da vivência, da fala, da escrita e da expressão estética.
Já a professora e doutora em literatura hispano-americana e também membro do Coletivo Diversidade Cultural Plural de Apucarana, Jéssica Rocha, conduziu o público a uma jornada reflexiva sobre racismo e desigualdade através da personagem Ponciá, protagonista da obra Ponciá Vicêncio, de Conceição Evaristo. A narrativa da personagem é marcada por traumas familiares e violência herdada de gerações anteriores, desde o avô até o marido, refletindo a chamada “herança psicológica da escravidão”. Jéssica destacou como os traumas intergeracionais continuam presentes no pós-abolição e defendeu a importância da leitura de autoras negras nas escolas e universidades. Para ela, essa valorização é essencial para romper com o ciclo de dor e invisibilidade histórica da população negra.
Após as falas, o evento abriu espaço para perguntas e contribuições do público. Uma participante questionou o impacto das cotas raciais no sentimento de pertencimento de mulheres negras, recebendo como resposta que, embora ampliem o acesso ao meio acadêmico, não garantem a permanência, sendo necessário promover e valorizar a cultura negra. Outra pergunta abordou a autoestima e a influência da internet, e foi pontuado que, mesmo nas redes sociais, ainda prevalece um padrão restrito de beleza negra. Por fim, a professora e sindicalista Isabel Azevedo também refletiu sobre a falta de valorização e representatividade de estudantes negros desde o ensino fundamental, seja na literatura, nos materiais escolares ou até nos brinquedos.
A programação foi considerada bastante produtiva, estimulando reflexões e debates essenciais sobre representatividade e valorização da cultura negra. Gratuita e aberta à comunidade, a iniciativa contou com grande participação do público. Segundo a coordenadora do NERA, outras atividades semelhantes serão promovidas no campus, incluindo desfiles de moda e apresentações musicais com o mesmo objetivo de ampliar o diálogo e a conscientização.
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