Aos 26 anos, a cantora irlandesa CMAT, nascida Ciara Mary-Alice Thompson, consolida-se como uma das vozes mais originais do pop contemporâneo com seu terceiro álbum de estúdio, Euro-Country. O disco, lançado em 2025, é uma mistura única de humor, introspecção e crítica social, consolidando a artista como uma força criativa capaz de unir energia pop a reflexões profundas sobre identidade, cultura e vida cotidiana.
A virada em sua carreira começou sete anos atrás, quando a popstar Charli XCX aconselhou CMAT a terminar um relacionamento e se dedicar de verdade à música. Hoje, a influência desse conselho é evidente: Euro-Country é o trabalho mais maduro da cantora, um álbum que combina grooves dançantes com letras afiadas e emocionais.
Em trabalhos anteriores, como o indicado ao BRIT Award Crazymad, for Me (2023), CMAT explorava relacionamentos e experiências pessoais com humor e coração, apoiando-se em ritmos country-pop e influências retrô dos anos 1970. Em Euro-Country, a artista aprimora essas ferramentas, tornando suas canções mais políticas e intensamente pessoais.
A faixa-título abre o disco cantada em irlandês, sobre sintetizadores expansivos, refletindo períodos de prosperidade e crise econômica em seu país. “I never understood what this way of living could do to me / All the mooching ’round shops, and the lack of identity”, observa CMAT, evidenciando o impacto das mudanças culturais na Irlanda.
O restante do álbum segue nessa linha, equilibrando diversão e reflexão. Há faixas que abordam frustrações cotidianas, como Coronation Street, inspirada na rotina de quem assiste novelas diurnas em sua cidade natal, e músicas que meditam sobre perdas pessoais, como Lord, Let That Tesla Crash, escrita após a morte de um amigo próximo. Outros momentos exploram a nostalgia da infância (Iceberg), a crítica ao body shaming (Take a Sexy Picture of Me, que viralizou no TikTok) e o amor pelo país de origem (faixa-título).
Um destaque especial é Jamie Oliver’s Petrol Station, canção com pegada alt-rock e letra que mistura crítica social e referências à cultura pop. A música aborda a vida cotidiana na Irlanda usando o chef britânico Jamie Oliver como símbolo da desilusão com o capitalismo. “It’s the fear of not getting the dole and the joy of then chopping it up with the card that you draw it on / Coming through town and then seeing the type of the people you missed who’d have died back in Dublin”, canta CMAT, com humor e percepção crítica. A canção também brinca com referências engraçadas à cultura pop: “OK, don’t be a (expletive) / The man’s got kids / And they wouldn’t like this.”
Em um cenário musical altamente competitivo em 2025, destacar-se é um desafio constante. CMAT, entretanto, prova em Euro-Country que possui uma visão artística clara e um estilo próprio. Cada faixa reflete sua habilidade de transformar experiências pessoais e críticas sociais em músicas que são, ao mesmo tempo, divertidas, dançantes e inteligentes.
O álbum confirma que CMAT não apenas domina o pop, mas também o reinventa, oferecendo ao público canções que vão além do entretenimento: elas são provocativas, emocionais e, sobretudo, inesquecíveis. Agora, resta ao mundo acompanhar e reconhecer a força de uma artista que, sete anos após aquele conselho transformador, finalmente encontra sua voz completa e autêntica.
Comentários: