Julho é um mês de luta, memória e celebração para milhares de mulheres negras na América Latina e no Caribe. Mais do que uma data no calendário, o chamado Julho das Pretas representa um grito coletivo por visibilidade, dignidade e justiça. Criado a partir do 25 de julho – Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, o mês ganhou força como um marco político e simbólico que destaca o protagonismo das mulheres negras na história e na atualidade. No Brasil, essa data também reverencia Tereza de Benguela, líder quilombola do século XVIII, símbolo de resistência e organização popular frente à escravidão.
Em 2025, essa luta continua viva e pulsante. Um dos destaques do mês será a roda de conversa "Vozes Negras: Trajetórias de Resistência e Protagonismo de Mulheres Negras no Serviço Público", marcada para o dia 3 de julho, às 10h, em formato remoto, organizada pelo Grupo de Referência Diversidade e Políticas Afirmativas em parceria com a ASSAE (Associação dos Servidores), os NEABIs (Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas) e a deputada federal Carol Dartora.
“Precisamos criar e ocupar espaços de reflexão que tragam o olhar das mulheres negras como eixo central, não como exceção. É sobre justiça histórica, mas também sobre futuro”, afirma Amanda Crispim, docente do campus Curitiba da UTFPR e presidenta do NEABI local.
Uma trajetória coletiva de resistência
A roda de conversa tem como objetivo ampliar as vozes de mulheres negras que constroem cotidianamente políticas públicas, saberes e experiências no ambiente acadêmico e no serviço público. Para isso, duas convidadas de peso participam do encontro:
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Carol Dartora, primeira deputada federal negra eleita pelo Paraná, militante histórica dos direitos humanos, professora e referência nacional na luta antirracista e feminista.
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Amanda Crispim, professora universitária, ativista e liderança no fortalecimento dos NEABIs dentro da UTFPR.
O evento propõe reflexões sobre os desafios enfrentados por essas mulheres – que vão desde o racismo institucional até o apagamento de suas contribuições em espaços decisórios. O ambiente universitário, muitas vezes visto como espaço neutro, ainda reproduz desigualdades históricas.
“A luta não é apenas por representatividade, mas por transformação estrutural. Precisamos de políticas afirmativas permanentes que reconheçam a pluralidade de saberes e trajetórias negras”, destaca Carol Dartora.
Por que Julho das Pretas?
A escolha do mês se ancora em uma história de articulação continental. Em 1992, durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, realizado em Santo Domingo, na República Dominicana, foi instituída oficialmente a data de 25 de julho como o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Desde então, o mês passou a concentrar ações e mobilizações em diversos países, com forte adesão no Brasil.
No país, o Julho das Pretas é oportunidade de mostrar que a luta antirracista é diária, mas também é espaço de celebração das conquistas. Ao longo da história, mulheres negras protagonizaram movimentos sociais, produziram ciência, influenciaram as artes e desafiaram sistemas que insistem em invisibilizá-las.
Universidade antirracista: compromisso e urgência
A iniciativa promovida pelo Grupo de Referência Diversidade e Políticas Afirmativas marca também o início de uma série de espaços de escuta e ação institucional dentro da universidade. O objetivo é fortalecer a diversidade como um valor acadêmico e social, reconhecendo o papel fundamental das políticas afirmativas na democratização do ensino superior.
Abaixo, os dados principais do evento:
Evento | Roda de conversa “Vozes Negras: Trajetórias de Resistência e Protagonismo de Mulheres Negras no Serviço Público” |
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Data | 03 de julho de 2025 |
Horário | 10h (horário de Brasília) |
Formato | Online (via Google Meet) |
Link | https://meet.google.com/duv-mvgn-pds |
Público-alvo | Membros dos NUAPEs, NEABIs e comunidade universitária interessada |
Convidadas | Carol Dartora e Amanda Crispim |
A proposta do evento é também chamar atenção para a urgência de um compromisso antirracista permanente por parte das instituições públicas. Trata-se de reconhecer, acolher e valorizar experiências e saberes diversos, que por séculos foram marginalizados. Afinal, como afirmam as organizadoras do encontro: “O futuro será negro, feminino e coletivo. E começa agora.”
Uma construção de todos
Mais do que uma ação isolada, o Julho das Pretas é um convite para toda a sociedade refletir e agir. Afinal, como dizia a escritora Conceição Evaristo, uma das maiores vozes negras da literatura brasileira:
“Eles combinaram de nos matar. Mas a gente combinou de não morrer.”
A luta das mulheres negras segue firme, com voz, coragem e afeto. Participar de espaços como este é um ato político. É reconhecer que, em um país marcado por profundas desigualdades raciais e de gênero, não há democracia plena sem o protagonismo das mulheres negras.
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